Uma
vez houve um grande mestre que pediu ao aluno para fechar os olhos e
lhe descrever o que ouvia. Animado,o aluno respondeu-lhe que ouvia o
barulho dos comboios, as crianças a brincar no recreio, os carros
na rua, o vento na janela... Foi então que o mestre lhe perguntou:
"Então e o gafanhoto que está aos teus pés?".
Hoje em dia vivemos num ritmo acelerado e frenético que nos enche de estímulos e nos curto-circuita a capacidade de parar, respirar e conectar com a essência. Torna-se mais difícil tomar decisões sobre pressão, torna-se mais difícil controlar a respiração e a ansiedade, crescendo o número de pessoas com ataques de pânico constantes em consulta psicológica. Pais tranquilos são melhores pais. Profissionais seguros e pouco ansiosos são melhores trabalhadores. Chefes empáticos são melhores líderes. E por tudo isto cresce a necessidade de voltar aos métodos ancestrais que nos permitem um tempo de qualidade connosco mesmos. Hoje usada pela psicologia clínica, a meditação é uma dessas práticas ancestrais privilegiadas.
O que é
Meditação e os seus benefícios
Originalmente ligada
às práticas religiosas orientais, a meditação é hoje objecto de
estudo da ciência e recomendada como terapia complementar para
muitas condições médicas.
"As grandes
religiões orientais já sabem disso há 2.500 anos. Mas só
recentemente a medicina ocidental começou a se dedicar a entender o
impacto que meditar provoca em todo o organismo. E os resultados são
impressionantes", diz Judson A. Brewer, professor de psiquiatria
da Universidade Yale.
Iniciada
na Índia e difundida em toda a Ásia, a prática começou a se
popularizar no ocidente com o guru Maharishi Mahesh Yogi, que nos
anos 1960 convenceu os Beatles a atravessar o planeta para
aprender a meditar. Até à década passada, não tinha apoio e
validação médica. Nos últimos anos, os investigadores ocidentais
começaram a entender por que meditar funciona tão bem, e para
tantos problemas de saúde diferentes. "Com a ressonância
magnética e a tomografia, percebemos que a meditação muda o
funcionamento de algumas áreas do cérebro e isso influencia o
equilíbrio do organismo como um todo", afirma o psicólogo
Michael Posner, da Universidade de Oregon.
A
meditação não se resume a apenas uma técnica: são várias,
diferindo na duração e no método (em silêncio, entoando mantras
etc.). Essas variações, no entanto, não influenciam no resultado
final, pois o efeito produzido no cérebro é parecido.
Na prática, aumenta
a actividade do córtex cingulado anterior (área ligada à atenção
e à concentração), do córtex pré-frontal (ligado à coordenação
motora) e do hipocampo (que armazena a memória). Também estimula a
amígdala, que regula as emoções e, quando accionada, acelera o
funcionamento do hipotálamo, responsável pela sensação de
relaxamento.
Melhora o sono e
acelera em 30 por cento a recuperação da psoríase, baixa a tensão
arterial e elimina o stress, apura a atenção, contribui para o
equilíbrio emocional, e portanto, para o bem-estar profundo, ou
seja, a felicidade. São os efeitos benéficos da meditação e estão
certificados por estudos publicados na última década em revistas de
topo como a Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) ou
a Plos Biology.
Uma
equipa de psiquiatria do Hospital Geral de Massachusetts (EUA)
realizou o primeiro estudo sobre como a meditação afecta o cérebro.
As conclusões, recentemente publicadas no «Psychiatry Research»,
referem que a prática regular – até oito semanas – pode levar a
alterações consideráveis em determinadas regiões cerebrais,
relacionadas com a memória, a autoconsciência, a empatia e o
stress.
A investigação sugere ainda que a transformação é benéfica para a saúde física e mental. Apesar de ser uma prática relacionada com a tranquilidade e o relaxamento, os médicos já confirmaram que “proporciona benefícios cognitivos e psicológicos persistentes durante um dia inteiro”, segundo referem os cientistas norte-americanos.
Desta forma, a meditação torna-se uma prática essencial nos tempos modernos, permitindo-nos um momento de paragem e reconexão que nos ajuda a relaxar, a tomar melhores decisões e a trabalhar questões emocionais que poderão estar no centro da nossa falta de qualidade de vida.
Tatiana Santos
Psicóloga Clínica, instrutora de Meditação