Em primeiro lugar convém explicar afinal o que é isto de "mutismo selectivo". Até porque se tratam de crianças que, em casa, falam sem problemas e apenas não o fazem na presença de estranhos ou de outros ambientes particulares. Este tipo de mutismo pode ser compreendido como um medo de
falar de forma espontânea, que surge sobretudo em contextos externos ao ambiente familiar e que se pode prolongar até à fase da adolescência. Para os
especialistas, este tipo de mutismo selectivo surge como uma
perturbação de ansiedade que ocorre normalmente nas crianças mais pequenas (3 anos
de idade). Contudo, as queixas costumam ser acentuadas mais no final do pré-escolar e início do 1.º ciclo devido às dinâmicas de sala de aula.
É também nesta idade que as crianças têm mais dificuldade em estabelecer contactos com pessoas estranhas à família. Falamos de crianças que não têm efectivamente qualquer perturbação da linguagem ou atraso cognitivo. Não falam devido ao medo/ansiedade
que sentem perante estranhos ou pessoas com as
quais não se sentem à vontade.
Este problema acaba por interferir na realização escolar e na comunicação social. Devemos perceber se ocorre apenas no momento de transição, quando da entrada da criança para a escola (pois há um período adaptativo em que muitas mudanças têm lugar) ou se a situação se prolonga. Quando este mutismo se prolonga no tempo e começa a aplicar-se a praticamente todas as pessoas com excepção dos pais / cuidadores, a integridade física e mental da
criança fica em risco. Surgem dificuldades na avaliação educativa destas crianças, os amigos afastam-se durante as brincadeiras sociais, a auto-estima diminui e até a sua saúde física pode ficar comprometida já que estes/as meninos/as evitam pedir aos educadores para ir à casa-de-banho, dizer que têm fome ou sede, etc. Normalmente falamos de crianças tímidas, inseguras, perfeccionistas. Comunicam essencialmente através de gestos e se usarem a fala, fazem-no num volume muito baixo (até ao ouvido).
Os papás destas crianças devem procurar estimular a comunicação desde cedo, evitar o uso de expressões depreciativas ("não tens vergonha"), evitar falar do problema com outras pessoas à sua frente, não obrigar a criança a falar quando esta se recusa, não se zangar ou castigar a criança devido a este comportamento, sempre que a criança falar baixinho responder "não consigo ouvir" para tentar que fale mais alto, dar tarefas à sua criança tais como recados em que tem de pedir coisas a alguém, convidar amigos para irem a sua casa de forma a que a criança tenha mais contacto com diferentes pessoas, colocar a criança em actividades extra-curriculares (ATLs) e ter alguma paciência para não forçar a mudança dando ao seu filho o tempo que necessita.
Os Educadores destes meninos devem dar-lhes tempo, criar um ambiente
descontraído e livre de stress, usar expressões encorajadoras ("tens
tempo", "se não falares hoje, falas amanhã"), não deixar que outros
meninos falem na sua vez, incentivar a interacção social colocando estas
crianças primeiro em pequenos grupos, evitar rótulos, contar histórias
de meninos que têm medo de falar mas conseguem vencer o problema,
reforçar positivamente todas as intervenções da criança, ter calma,
paciência e atribuir-lhe tarefas de responsabilidade na sala para que
possa ir ganhando segurança.
O apoio psicológico é uma mais valia, sobretudo se feito em equipa junto com os pais, educadoras e auxiliares.
Tatiana Santos
Psicóloga Clínica